Ser bipolar não é para todos mas há sobreviventes, eu por enquanto sou uma.
Quem sou
Eu chamo me Maria Madalena Moreira de Carvalho de Gouvêa Lemos. Tenho 66 anos e vivo com o meu companheiro há 7 anos. Moro na Quinta do Conde, Sesimbra em Portugal .
Tenho 4 filhos todos do mesmo casamento os quais já têm vida própria. O Rodrigo com 46 anos, a Débora com 43 anos, o João com 39 anos e o Nuno com 29 anos.
Deram me 6 netos de quem nutro um amor incondicional. Por eles sou capaz de tudo.
Boa leitura.
Como tudo começou
Sobreviver com esta doença é doloroso pois o cérebro mais parece uma montanha russa,devido a várias sensações ao mesmo tempo.
Voltando aos meus quinze anos de idade.
Enquanto dormia estava bem tranquila sonhando como tudo o que se passava em casa não passava disso mesmo, um pesadelo..
Depois diminuiram a dosagem do Xanax ficando mais tempo acordada tentando me inserir na família. Já não havia muito choro por parte dos meus irmãos não querendo dizer que eles não sofriam também a perda do Pai.
Só que não queria falar com ninguém, estava tentando me situar entre eu e o Pai, a relação que tinha com o Pai era de fã para ídolo, sempre foi o meu herói, o meu orgulho.
Com a partida dele, se foi um bocado de mim ficando órfã de sensações. A família tentou várias maneiras para eu voltar à terra, sem obter algum sucesso. Estavam preocupados.
Pobre da minha amada Mãe, tanta dor que sofreu sem demonstrar aos cinco filhos. Ela foi a nossa força.
Enquanto fiquei isolada verbalmente via o Pai a entrar dentro de uma loja ou a dirigir um carro. Mais tarde falei com a Tia Marina que era psicóloga e acalmou o meu coração dizendo que fazia parte do luto. Era terrível ,eram momentos mistos, uns está vivo e outros está morto. Superei e aos poucos fui enterrando o Pai físico para o Pai moral.
Mantive o Xanax como apoio e já viciada, a minha prima Madalena, na brincadeira, tirou me o frasco o qual nunca mais o vi. Foi o melhor que ela fez.
Agora começo por falar da minha infância que foi de uma criança feliz até então aos quinze anos perder o Pai fazendo que a Mãe e o meu irmão mais velho decidirem que voltaríamos a Moçambique mais precisamente Vila Pery (Chimoio) para ficarmos perto dos Tios e primos que nos acompanharam desde bem pequeninos.
Nada havia de anormal no meu comportamento,apenas uma adolescente irreverente, com amigas do peito e amigos a quem éramos chamados de freaks. Cabelos compridos, calças à boca de sino, vestidos compridos e chinelos de couro com solas de pneu.
Vivi dois anos e meio maravilhosos, junto a pessoas do bem com a vida que muito me ajudaram a amenizar a dor da falta do Pai.
Hoje já é dia 15 de Novembro de 2023. Dei uma pausa para refletir sobre o que vou falar.
Em 7 de Setembro de 1974 estava em Maputo, quando houve uma rebelião derivado aos reacionários de então não aceitarem que Moçambique fôsse entregue a quem de direito, à Frelimo. Fica embaixo o link do que se passou.
https://ensina.rtp.pt/artigo/a-revolta-do-radio-clube/
Foram momentos bem intensos só apaziguados com a presença da Mãe que controlava os cinco filhos, já então viúva
Resolveu se retornarmos ao Brasil, Rio de Janeiro aonde os Tios paternos nos esperavam. Embarcámos num navio cargueiro levando só a nossa roupa. A viagem foi tranquila tirando a passagem pelo Cabo da Boa Esperança com uma grande tempestade.
Até al não tive manifestações de bipolaridade.
Chegando ao Rio de Janeiro comecei a trabalhar no Banco Veplan, com 17 anos,como rececionista para ajudar nas despesas da casa da Mãe.
Foi aí que apareceu o que seria o Pai dos meus quatro filhos. Tinha aí apenas 19 anos mas achando que seria feliz.
Mal sabia eu que me tornaria uma pessoa de mistura de tristeza absoluta ou euforia excessiva, devido aos maus tratos que o pai dos filhos me fazia.
Ouvir o barulho da porta sabendo que era ele a chegar me punha tensa. O que me esperava aquela noite?
Depois das crianças estarem deitadas começava a pressão para eu telefonar para o meu irmão António Maria a pedir dinheiro emprestado o qual nunca foi pago.
Um dia depois de ele me agredir fisicamente disse lhe que ía telefonar para o meu irmão José Paulo quando começou a implorar me que não o fizesse, mas telefonei e o Zé Paulo pronto para dar um basta naquilo. Eu estava no quarto e comecei a dizer que a culpa era minha ( próprio de vítimas de violência ), pois vi o meu irmão quase a atirar se ao covarde.
As alturas que engravidava sentia me plena por carregar um ser que era meu e havia respeito pela parte do outro.
Depois começava de novo a violência física, psicológica e sexual.
Não contava a ninguém o que se passava lá em casa e sempre mostrava exatamente que tudo era belo pois os maus tratos eram feitos quando as crianças dormiam e sem ninguém estar presente.
Houve tentativas por minha parte de divórciar me, coisa que a minha família achava loucura da minha parte visto que para eles o outro era o marido exemplar. " Poderia mesmo ser um psicopata?"
Vinham as desculpas que não voltaria a acontecer e lá vinha mais uma gravidez.
Foram 24 anos de sofrimento sem ninguém perceber, nem mesmo com as lágrimas a correrem me pelas faces pois já não controlava nada a não ser pôr um sorriso nos lábios para que as crianças não percebessem.
Num dia e agora já com a presença dos filhos mais novos, numa nova discussão ele deu-me um grande ponta-pé no ventre ficando bem dolorida indo para as urgências do hospital de Faro aonde fui atendida por um médico que ao saber o que se tinha passado disse me para que quando descesse fôsse fazer queixa ao polícia que estava lá embaixo e sendo firme disse, mimha senhora homens como ele quando partem para pontapés no ventre a próxima você voltará bem pior.
Foi aí que parti para o divórcio, a melhor atitude que tomei.
Segurei este casamento durante 24 anos para dar um lar completo para os meus filhos para chegar à conclusão que estaria a tornar os meus filhos infelizes, principalmente o João e o Nuno
Para mim, ser mãe era o melhor que havia em mim, não podia continuar com este horror.
Claro com o que se passou a minha bipolaridade espoletou.
As agressões pioraram depois de virmos morar em Portugal. Os dias só eram melhores quando ele não estava em casa.
Ele tudo fez para que eu saísse de casa e as torturas eram constantes. Até que o meu primo João Moreira de Carvalho foi lá casa para a Carolina brincar com o Nuno,disse-me "Bebé, deixa de cozinhar, passar a roupa e tudo o que fases para ele e aí sim ele sairá cá de casa"
Assim o fiz e mudei me para o sofá cama da sala.
Foi uma luta dolorosa pois ele torturava me quando chegava à noite comigo já deitada ligava a televisão aos berros e punha se a falar coisas horríveis.
Mas consegui e como foi maravilhoso aliviar a tensão tão negativa.
Houve uma vez que o predador agarrou me o cabelo que na altura era comprido e arrastou me de costas pelo chão para me prender na dispensa só que eu tinha um jarro de plástico, pois andava a regar as plantas e dei lhe com ele na testa abrindo um pequeno corte do qual se aproveitou para fazer um drama pondo se como se a vítima fôsse ele perante os filhos e a minha amiga Teka.