Bipolaridade vista por uma bipolar
Ser bipolar, tabu e estigma.
A minha intenção é tentar desmistificar esta doença psiquiátrica chamada de transtorno bipolar a qual ainda se fala como de um tabu se tratasse e na maioria das vezes os doentes serem estigmatizados como se fôssem "dementes mentais".
Sendo eu portadora da mesma saberei dizer o porquê de tanto tabu e estigma?
O tabu começa por mim assim como o estigma e digo isto porque no dia o que vier de fora não me afetará mais.
Não sou um rótulo mas sim pessoa.
Ser bipolar o tabu e seu estigma.
Ser bipolar é ser estigmatizado o que me transtorna bastante deixando me triste e principalmente preocupada.
Venho tentar esclarecer melhor o pensar das pessoas que fazem questão de julgar quem sofre de transtorno bipolar e quais os sintomas quando estamos descompensados por falta de medicação adequada e falta de acompanhamento profissional, tendo eu hoje a sorte de ter ótimas profissionais como a psiquiatra, a médica de família e a psicóloga. Afinal esta doença tem tratamento deixando-nos equilibrados com o diagnóstico adequado e a medicação eficaz para cada caso. As médicas que me acompanham são três excelentes profissionais, a Dra. Alexandra Lourenço(psiquiatra),a Dra. Ludmila Martins (médica de família)e a Dra. Sónia Eusebio (psicóloga) a quem agradeço a minha melhoria.
Como tudo começou.
Como começaram os sintomas da bipolaridade
Tudo começou logo após a morte do meu Pai, no dia 2 de Agosto de 1972, eu entrei em choque com os meus poucos quinze anos. Entrava em histeria quando ouvia algum dos meus irmãos a chorarem não permitindo que o fizessem. A minha Mãe e os meus Tios acharam por bem darem me Xanax para que eu dormisse e só acordasse para as refeições e ir à casa de banho. Fiquei assim, mais de uma semana adormecida. Quando deixei de tomar os relaxantes passei a ser um fantasma pois emudeci por completo ficando assim durante um mês sem falar uma única palavra.
Antes do diagnóstico
Vivi anos a tomar anti-depressivos e a ser diagnosticada como depressiva.
Só quando os meus filhos mais velhos o Rodrigo e a Débora se aperceberam que havia mais do que depressão devido aos meus momentos de hipomania onde gastava dinheiro a mais do que podia e irritação excessiva. Levaram me a vários psiquiatras que nada diagnostificaram a não ser a maldita depressão. Foi então que a minha irmã Teresa levou me ao hospital Amadora/Sintra aonde fiquei logo internada e foi aí que disseram me que era portadora de transtorno bipolar.
A descompensação era tal que até hoje não me lembro do dia que fui internada.
Estigma e tabu
A doença transtorno bipolar mata
Estigma e tabu
Pesquisei muito sobre este assunto pois vivi quatro vezes a tal lavagem ao estômago por ter ingerido medicação em excesso devido a uma dor horrorosa no peito e a cabeça numa depressão com a pouca ou quase nenhuma vontade de viver. A solidão era enorme e conforme a medicação ingerida ía amenizando a dor para eu passar a uma leveza totál. Consegui ligar para o 112 apenas para ouvir alguém do outro lado. Eles se apercebiam e enviavam ambulância que me levava para as urgências do hospital São José para ser feita a horrível lavagem estomacal.
Falar em suicídio também é um tabu para superar se. A mim os filhos mais velhos dizem que é apenas para chamar a atenção,quem dera que assim fôsse, a dor é bem maior do que o amor que tenho por eles.
Ultimamente, devido a uma vida regrada sem falhas na medicação e rodeada de pessoas do bem, não tenho pensamentos suicidas
Tudo é uma questão de estar rodeada de todas as frentes para superar pensamentos negativos ou megalómanos.
É uma doença cerebral por isso há que a combater também com o cérebro.
Assumir a doença foi super positivo para o meu bem estar psicológico.
Andar na contramão sempre foi o meu caminho e por isso continuo a lutar contra o pessimismo substituindo pelo positivismo . Ê como uma ginástica cerebral, como diz a Dra. Sónia Eusebio. Ao princípio custa mas depois já é automático.
Transtorno bipolar
Saber amar é arte.
A minha mão treme e a letra fica de doutora mais parecendo apenas rabiscos.
A paz está no peito.
A tranquilidade é necessária para amar poder ser arte.
Madalena Gouvêa Lemos
02/01/2024
Falar do meu Pai é ternura total!
Contarei algumas passagens de momentos com o meu pai, os poucos que me lembro pois as memórias vão-se esquecendo.
Para muitos nada significam mas para mim vivem até hoje com o doce sabor de amor.
Houve um dia na década de 70 depois da matiné de cinema na Beira, Moçambique, sentei me à mesa com o pai enquanto ele comia, e comecei a contar lhe o filme quando aparece a minha mãe dízendo me que eu deixasse o pai em paz e o pai respondeu "deixa-a lá pois a Bebé consegue fazer do relato dela maior do que o próprio filme". Soube me tão bem!
Todos os fins de semana íamos à praia e o momento mágico era irmos para o mar com o pai e ele punha nos aos ombros para mergulharmos . A minha mãe sempre alerta com a saúde precária do seu grande companheiro pedía que nós parássemos pois éramos seis e o seu esforço poderia-lhe ser prejudicial. E vinha me à mente o que a minha mãe nos dizia " o vosso pai pode partir a qualquer momento "
Outro momento era quando o pai ía buscar nos, a mim e à minha irmã Teresa,ao Liceu Pêro de Anaia e deixava nos segurar o volante para guiarmos.
Coisas tão simples para um adulto mas que nos enchiam de felicidade a nós então crianças.
Outra memória que me vem à cabeça é quando ouvia o carro do pai a entrar na garagem para vir almoçar eu e a minha irmã Teresa brigávamos para prepararmos o whisky com gelo e soda que ele gostava de tomar enquanto esperava o almoço ficar pronto, ouvindo os seus discos de jazz.